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Primavera

24 Abril 2025

PRIMAVERA

A revolução é como a primavera
Regenera
A nossa revolução aconteceu na primavera.
Pudera!
A nossa revolução tem nome de flor
E toda a flor quer ser floresta!
Foi uma festa.
As ervas daninhas deixaram de ser pisadas
As aves canoras deixaram de ser caladas
As vinhas encheram mais copos
para brindar à paz e fazer dançar os corpos
As searas de trigo passaram a dar mais pão
Partilhado de mão em mão
Porque aquela fome de cão, outra vez?
Nem mortos!

Mas passada a primavera
Chegados à maturidade
Cientes do que nos espera
Perante a calamidade
Diante do longo inverno
Do calor de mil infernos
Diante da fúria dos elementos
Destes tempos, incertos
Haverá outra causa tão urgente
Como a sobrevivência?
Chegados aqui, conscientes
Munidos de toda a ciência
Haverá outra coisa mais premente
Do que salvar toda a gente?
Do que a nossa mera existência?

Curvemo-nos diante das árvores centenárias
Ouçamos com humildade as aves e suas árias
Suas sábias lições de botânica e de biologia
Observemos os fungos e a sua tecnologia
Saibamos ser bicho
Sem luxo, sem lixo
Só ser ser-vivo
Só estar vivo
Respirando o ar das pedras
Sem merdas
Afinal não somos mais do que matéria-orgânica
Com laivos de divindade
Viver com simplicidade
É a matéria-prima para sermos mais felizes

AUTOR

Picture of Capicua
Capicua
Capicua nasce no Porto nos anos 80, descobre a cultura Hip Hop nos anos 90 e torna-se Rapper nos anos 00. Socióloga de formação, acabou por fazer da música o seu principal ofício e é conhecida pela sua escrita emotiva, feminista e politicamente engajada. A sua discografia conta com duas mixtapes e quatro álbuns em nome próprio, um disco de remisturas, dois discos-livro para crianças com o projeto Mão Verde, um disco luso-brasileiro colaborativo e um EP ao vivo, além da direcção artística do álbum de homenagem a Sérgio Godinho “SG Gigante” (2022). Na última década, tem conquistando um público muito diverso e acumulado colaborações com vários artistas, tem somado concertos, workshops, conferências, projetos sociais e comunitários (como o OUPA integrado no Cultura em Expansão da CMP ou o Recanto a convite da Arte em Rede). De assinalar, é também o seu aclamado percurso como letrista para vários intérpretes e, em particular, do novo disco “Metade-Metade” (2022) de Aldina Duarte, que escreveu na íntegra. Tem também somado várias experiências de escrita para teatro (de dramaturgia a bandas sonoras) e conta já com muitos anos de atividade como cronista, na Revista Visão (2015-2021) e, mais recentemente, no Jornal de Notícias. Capicua é também autora de dois livros, um de crónicas e poemas - “Aquário” (Companhia das Letras, 2022) - e “Cor-de-Margarida” (Nuvem de Letras em 2023) para o público infantil. O ano de 2024 começa com um tema novo “Que força é essa amiga” (que é uma versão renovada e no feminino do clássico de Sérgio Godinho) e termina com um disco pronto. O ano de 2025 será de lançamento e digressão com “Um gelado antes do fim do mundo”.

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