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Un dimanche après-midi à l'Île de la Grande Jatte, de Georges Seurat (1859–1891). Art Institute of Chicago
Un dimanche après-midi à l'Île de la Grande Jatte, de Georges Seurat (1859–1891). Art Institute of Chicago

Salvemos a humanidade, então!

Demos passos insuficientes, mas sabemos que é possível uma sociedade que tenha como objectivo o bem comum e que é possível a criação de um futuro ecológico, sustentável, justo e equilibrado.

Enquanto fazia um scroll numa das inúmeras redes sociais que somos obrigados a ter — também para participar politicamente — e quando começava a achar que já estava a passar demasiado tempo nela, deparei-me com uma conhecida citação de Almada Negreiros:

Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam escritas. Só faltava uma coisa: salvar a humanidade.

Almada Negreiros nasceu no fim do século XIX, um tempo caricato para dizer que as frases que salvariam a humanidade já estavam escritas, dado que nem 20 anos depois o mundo entrava numa das guerras mais letais da história. Caricato, mas nem por isso inteiramente falso. Da antiguidade grega, passando pelo período clássico e pela modernidade do século XIX, muita tinta correu sobre como a humanidade poderia ser salva. De recensões a projectos políticos, de análises a discursos, de revoluções como a francesa ou a sublevações populares, um caminho era visível. Contudo, e mesmo considerando a importância do avanço moral, poucos ganhos tangíveis foram conquistados. 

“A invenção do dia claro”, nome da obra de Almada Negreiros na qual a citação está presente, apenas teve luz no século XX e particularmente aquando dos grandes movimentos trabalhistas do pós-segunda-guerra mundial. Portugal, como é seu apanágio, chegou atrasado a esse movimento. Só com o 25 de Abril teve início um longo caminho rumo à liberdade, quando boa parte dos países já começava a entrar numa estagnação, não apenas económica, mas também política e social.

Nem tudo correu bem. Não se avançou tanto quanto se queria. Não se construiu tanto quanto se deveria. Nem todas as bases ficaram sólidas. A invenção do dia claro, sendo condição necessária, mostrou, manifestamente, não ser suficiente para garantir a claridade nos restantes dias. Aliás, isso é cada vez mais visível, seja pelos retrocessos dos pilares de Abril, seja pelo estancar da mobilização que esmaga o contra-movimento.

Mas isto não nos pode deter. Que seria da humanidade se, nos vários momentos históricos, perante a adversidade, um conjunto de cidadãos não tivesse avançado? Os entraves e as dificuldades devem ser mais do que mero incentivo: devem ser motes para nos fazer avançar e concretizar os vários ideais que salvam a humanidade e que ainda não foram cumpridos.

É possível a criação de estruturas sociais participadas que tenham como objectivo um bem comum. É possível a criação de um futuro ecológico, sustentável, justo e equilibrado. É possível a eliminação da desigualdade e da atomização dos cidadãos. É possível a participação de todos numa relação de igual para igual. É possível salvar a humanidade. E é a própria humanidade que se pode salvar a si própria. Basta que queira.

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